quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O valor da paciência.


É tão novo, tão inexperiente ainda perante as coisas, que desejaria pedir-lhe, o melhor que soubesse, uma grande paciência, para tudo que ainda não estiver resolvido no seu coração. Esforce-se para amar as suas próprias dúvidas como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em língua estrangeira. Não procure, por enquanto, respostas que não lhe podem ser dadas, porque ainda não saberia pô-las em prática, vivê-las. E trata-se, precisamente de viver tudo. De momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, simplesmente vivendo-as acabe um dia por penetrar insensivelmente nas respostas.
Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Esperança.



                    Que o céu exista, ainda que nosso lugar seja o inferno.
 Jorge Luis Borges

O Desaparecimento do Ego.

Pergunta do filme Samsara: Como impedir uma gota d’água de secar?




.                                                                                          Resposta:    Atirando-a ao mar.  

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Karma Yoga

"O  Supremo Senhor disse:
Aquele que não se apega 
aos resultados dos atos
e apenas cumpre o dever
é um yogui renunciante,
e não quem não sacrifica
nem presta nenhum serviço."

 Gita





O Karma Yoga é muitas vezes ensinado ou compreendido como o exercício da acção sem expectativas ou a acção desinteressada. Entretanto, ensina-se na Índia que não é possível praticar uma acção sem esperar um resultado. A negação desta verdade representa a não compreensão e não aceitação da natureza humana. Uma vez que percebemos que a 'inacção na acção' não é não esperar um resultado, mas sim aceitar que não podemos mudar um resultado e aceitá-lo em santosha (contentamento), ou seja, agir sem apego ao resultado, agir com desapego; então compreendemos o ensinamento do Karma Yoga.






Upanishad - Yôga



O que ninguém respira através da respiração, mas através do qual a respiração respira, aprende que só isso é Brahman (Deus/Uno) e não aquilo que os homens veneram."
Kena Upanishad 1.8

"Aquilo que não pode ser compreendido pela mente,
mas sem o qual nem a mente se poderia pensar -
aprende que só isso é Brahman (Deus Uno) e não o que os homens veneram."
Kena Upanishad 1.5

"Aquilo que não pode ser visto pelo olhar,
mas sem o qual nada se veria -
aprende que só isso é Brahman (Deus Uno) e não o que os homens veneram."
Kena Upanishad 1.6

quarta-feira, 30 de maio de 2012

philip glass: the hours







"Não são as catástrofes, assassinatos, mortes, doenças, que nos envelhecem e nos matam; é a forma como as pessoas olham e riem, e apressam os passos para os ônibus." Virginia Wolf

terça-feira, 29 de maio de 2012

O que realmente importa.

Tal observação me remete à Mafalda, que todos os dias me revela no meu imã de geladeira: 


"Como siempre: lo urgente no deja tiempo para lo Importante."

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Travessia









Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
                                                                              fern ando  pes  soa

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Clarice, e a eterna capacidade de decodificar a alma feminina...


Clarice Lispector: Toda vida é uma missão secreta
"Aquilo de que se vive - e por não ter nome só a mudez pronuncia - é disso que me aproximo através da grande largueza de deixar de me ser. Não porque eu então encontre o nome do nome e torne concreto o impalpável - mas porque designo o impalpável como impalpável, e então o sopro recrudesce como na chama de uma vela.

A gradual desenraização de si mesmo é o verdadeiro trabalho que se labora sob o aparente trabalho, a vida é uma missão secreta. Tão secreta é a verdadeira vida que nem a mim, que morro dela, me pode ser confiada a senha, morro sem saber de quê. E o segredo é tal que, somente se a missão chegar a se cumprir é que, por um relance, percebo que nasci incumbida - toda vida é uma missão secreta.

A desenraização de mim mesma está minando subterraneamente o meu edifício, cumprindo-se à minha revelia como uma vocação ignorada. Até que me seja enfim revelado que a vida em mim não tem o meu nome.

E eu também não tenho nome, e este é o meu nome. E porque me despersonalizo a ponto de não ter o meu nome, respondo cada vez que alguém disser: eu.

A desenraização é o grande fracasso de uma vida. Nem todos chegam a fracassar porque é tão trabalhoso, é preciso antes subir penosamente até enfim atingir a altura de poder cair - só posso alcançar a despersonalidade da mudez se eu antes tiver construído toda uma voz. Minhas civilizações eram necessárias para que eu subisse a ponto de ter de onde descer. É exatamente através do malogro da voz que se vai pela primeira vez ouvir a própria mudez e a dos outros e a das coisas, e aceitá-la como a possível linguagem. Só então minha natureza é aceita, aceita com o seu suplício espantado, onde a dor não é alguma coisa que nos acontece, mas o que somos. E é aceita a nossa condição como a única possível, já que ela é o que existe, e não outra. E já que vivê-la é a nossa paixão. A condição humana é a paixão de Cristo.

Ah, mas para se chegar à mudez, que grande esforço da voz. Minha voz é o modo como vou buscar a realidade; a realidade, antes de minha linguagem, existe como um pensamento que não se pensa, mas por fatalidade fui e sou impelida a precisar saber o que o pensamento pensa. A realidade antecede a voz que a procura, mas como a terra antecede a árvore, mas como o mundo antecede o homem, mas como o mar antecede a visão do mar, a vida antecede o amor, a matéria do corpo antecede o corpo, e por sua vez a linguagem um dia terá antecedido a posse do silêncio.

Eu tenho à medida que designo - e este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas - volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.

E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta é a glória própria de minha condição.

A desistência é uma revelação.

Desisto, e terei sido a pessoa humana - é só no pior de minha condição que esta é assumida como o meu destino. Existir exige de mim o grande sacrifício de não ter força, desisto, e eis que na mão fraca o mundo cabe. Desisto, e para a minha pobreza humana abre-se a única alegria que me é dado ter, a alegria humana. Sei disso, e estremeço - viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono.

Chego à altura de poder cair, escolho, estremeço e desisto, e, finalmente me votando à minha queda, despessoal, sem voz própria, finalmente sem mim - eis que tudo o que não tenho é que é meu. Desisto e quanto menos sou mais vivo, quanto mais perco o meu nome mais me chamam, minha única missão secreta é a minha condição, desisto e quanto mais ignoro a senha mais cumpro o segredo, quanto menos sei mais a doçura do abismo é o meu destino. E então eu adoro."


Clarice Lispector, in A Paixão Segundo G.H.

O Concerto - o filme


Um filme lindo, cômico, dramático e muito emocionante, conduzido pela beleza da música de Tchaikovsky. Imperdível.

Sinopse: Há 30 anos atrás, o renomado maestro Andrei Simoniovich Filipov (Alexei Guskov) foi demitido da orquestra de Bolshoi, mas seguiu trabalhando por lá como auxiliar de limpeza. Um dia, ele acaba descobrindo que o Bolshoi foi convidado para tocar no Châtelet Theater, em Paris, e decide reunir seus antigos amigos para tocar no lugar da atual orquestra. Para integrar sua equipe ele pretende que a jovem e exímia solista de violino Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent) os acompanhe.


Tratai de ser felizes em 2012.


Há um trecho final neste livro, A Viagem de Theo, lido por mim na adolescência, que me surpreendeu com uma mensagem a qual sempre funcionou para mim como uma forma de oração, e como tal, tem o poder de fortalecer a medida que é resgatada:

“Ide tranqüilamente entre o tumulto e a pressa e lembrai-vos da paz que pode existir no silêncio. Sem alienação, vivei tanto quanto possível em bons termos com todas as pessoas. Dizei calma e claramente vossa verdade, e ouvi os outros, mesmo o pobre de espírito e o ignorante; eles também têm sua história. Evitai os indivíduos barulhentos e agressivos, eles são um insulto para o espírito. Não vos compareis com ninguém: correríeis o risco de vos tornar vaidosos. Sempre há alguém maior e menor que vós…
Desfrutai vossos projetos, assim como vossas realizações, sede sempre interessados em vossa carreira, por mais modesta que seja: é uma verdadeira posse nas prosperidades mutáveis do tempo. Sede prudentes em vossos negócios, porque o mundo está cheio de malícias. Mas não sejais cegos no que vos concerne ? virtude que existe: vários indivíduos buscam os grandes ideais e em toda parte a vida é repleta de heroísmo. Sede vós mesmos. Sobretudo não simuleis a amizade! Tampouco sede cínicos no amor, porque em face de qualquer esterilidade e de qualquer desencanto ele é tão eterno quanto a relva… Aceitai com bondade o conselho dos anos renunciando com graça a vossa juventude. Fortalecei a prudência de espírito para vos proteger em caso de infortúnio repentino. Mas não vos aborreçais com quimeras! Numerosos temores nascem da fadiga e da solidão… Para lá de uma disciplina sadia, sede ternos convosco mesmos. Sois filhos do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas: tendes o direito de estar aqui. E, percebais ou não, o universo se desenrola sem dúvida como deveria. Estai em paz com Deus, qualquer que seja vossa concepção dele e, quaisquer sejam vossas obras e vossos sonhos, guardai no desconcerto ruidoso da vida a paz em vossa alma. Com todas as suas perfídias, as suas tarefas fastidiosas e os seus sonhos desfeitos, o mundo é belo! Prestai atenção… Tratai de ser felizes.”

Cat Power: The Greatest

Forro in the Dark w/ David Byrne - Asa Branca