terça-feira, 16 de setembro de 2014

Passo - Rene Aubry




Não acontecem milagres em contradição a natureza, mas apenas em contradição aquilo
que conhecemos da natureza. Santo agostinho

domingo, 20 de julho de 2014

Sita Sings the Blues - Ramayana



"Sita Sings the Blues" is based on the Hindu epic "The Ramayana". Sita is a goddess separated from her beloved Lord and husband Rama. Nina Paley is an animator whose husband moves to India, then dumps her by email. Three hilarious shadow puppets narrate both ancient tragedy and modern comedy in this beautifully animated interpretation of the Ramayana. Set to the 1920's jazz vocals of torch singer Annette Hanshaw, Sita Sings the Blues earns its tagline as "the Greatest Break-Up Story Ever Told." It is written, directed, produced and animated by American artist Nina Paley.

domingo, 8 de junho de 2014

A insustentável leveza do não Ser (Mr Nobody).



Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está a nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Então, o que escolher? O peso ou a leveza?”

“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo ‘esboço’ não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.”

  

Milan Kundera - A insustentável leveza do ser.






A questão das escolhas na vida sempre me fascinou. Desde a adolescência , época em que  li A insustentável leveza ser . A questão toma maior consistência na medida que envelheço e sinto que toda a vida é uma questão de se relacionar com tempo. Parece que na casa dos 30 as escolhas trazem um peso quase insustentável na medida que nos deparamos com nossa finitude. A angústia parece não ser da morte em si, mas fato da sensação de impossibilidades de recolher infinitamente em um tempo limitado em que toda escolha é uma aposta e não uma promessa de felicidade e satisfação. 

 Esses dias assisti Mr Nobody. É um filme que fala sobre escolhas. São as escolhas que moldam a vida, que a fazem avançar, menos para Nemo Nobody, ao que parece.Jared Leto é o protagonista de Sr. Ninguém, filme de Jaco Van Dormael, de 2009.Tudo acontece num futuro não muito distante, onde Nemo é o homem mais velho do mundo e é o último mortal a conviver com as pessoas imortais. Ao longo de cerca de duas horas e meia de filme,Nemo irá relembrar os seus anos reais e imaginários, de infância, adolescência e casamento.A grande sacada do filme é que ele se passa inteiro na imaginação de uma criança. Nemo se vê em uma situação onde tem que fazer uma escolha impossível, dolorosa e angustiante. Ele tem que escolher se vai querer ficar com o pai ou com a mãe depois que os dois se separam. Ele então começa a viajar em sua imaginação tentando criar e recriar todas as possibilidades futuras que essa decisão poderia causar. Ele se imagina com várias esposas/namoradas, vários empregos, enfim várias vidas diferentes. As coincidências sucedem-se em todas as possibilidades de vida a que assistimos, e as escolhas parecem ter sido sempre impossíveis para este homem de 118 anos. Para quê e por quê escolher?Nemo Nobody faz-nos crer que podemos ter tudo, sem precisar de optar. Contudo, e no meio de muita estranheza, a lógica nunca se perde.


No inicio do filme veio a sensação  do peso de cada escolha e a responsabilidade sobre as conseqüências, mas que ao longo dele surgiu um outro aspecto mais evidente sobre o tema: a sensação que as escolha não importam tanto assim, pois ha algo que é anterior: independente das nossas escolhas,o desfecho nunca é do jeito que desejamos. A vida nos  traz surpresas e nós, apesar das escolhas, nos vemos diante da única possibilidade para seguir adiante em paz  : a aceitação da vida como ela é." Na vida só temos um take, se estiver mau temos de o aceitar" diz alguém a Nemo Nobody a certo momento. A aceitação implica diretamente na percepção da incapacidade de se controlar a vida. Além disso, não existe escolha certa ou errada, não existem escolhas perfeitas, o que de fato existe é a vida imprevisível  com seus fatos, sonhos, sintomas, fantasias e delírios, que muitas vezes nos revela misturadas dificultando separar ate o que é real ou não. E no final, para que se preocupar tanto com escolhas se tudo nos leva ao mesmo caminho: a morte?. Essa questão me  dá inicialmente a impressão da insignificância de nossas escolhas diante da única coisa real, a certeza da morte. Mas falar sobre morte  nos convida a pensar na vida, no peso da existência.  Assim, eis paradoxo de Milan Kundera: o peso ou a leveza? o peso das escolhas e suas conseqüências eternas ou leveza diante da noção de nossa pequenez e fragilidade? Qual o caminho da felicidade? Sinto que não existe a equação da felicidade como alguma escolha a se tomar , mas mais algo como se posicionar diante da existência (ou da não existência) .A busca por uma escolha que trará a felicidade é justo o que nos torna infelizes. Percebermos que somos esse paradoxo, e o desafio consiste em aceitarmos ele como manifestação da vida como ela é. Quanto mais alta é e galhos tem a árvore, mais profunda são as raízes. Quanto maior a luz, maior a sombra. A afirmação da vida está na sutileza de reconhecer-se como parte dessa natureza, onde nada existe mas tudo é. Este sim, é perfeito.


terça-feira, 27 de maio de 2014





Aguardo, equânime, o que não conheço —
Meu futuro e o de tudo.
No fim tudo será silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada.

Ricardo Reis, in "Odes"

Heterónimo de Fernando Pessoa