terça-feira, 21 de junho de 2011

Esplêndida Varanasi


A minha peregrinação solitária pela India iniciou-se em Varanasi. Mas eu não senti-me absolutamente sozinha: ali eu fluia junto ao rio Ganges, que transbordava uma cultura sagrada de milênios de uma das cidades habitadas mais antigas do mundo. Varanasi, também conhecida como Benares ou Kashi (cidade esplêndida ou brilhante/sol)   tem mais de 700 templos, na sua grande maioria  dedicados ao Shiva que, segundo a lenda, foi o fundador desta cidade há mais de 5000 anos. Mas o que mais impressiona nesta cidade-parada-no-tempo, não são os templos em si, mas toda a atmosfera mistica ao redor do Ganges, quase de outro mundo. Desembarquei neste mundo justo no dia 20 março. Perguntei ao taxista porque a cidade estava tão vazia e porque ele estava todo rosa (e não amarelo-ictérico, a cor indiana). Ele sorriu e me disse que aquele dia era uma data especial, o festival Holi, que comemora a chegada da primavera ou o triunfo do bem sobre o mal. E quem saisse na rua seria alvo de tintas coloridas que demoram uma semana para sair do corpo! Não demorou muito para que eu fosse batizada por pequenas criaturas indianas que gritavam : happy Holi! Assim cheguei no hostel, pintada de verde e rosa ao estilo mangueira, após me perder nas inúmeras ruelas, repletas de lixo e vacas coloridas. A partir dai a cidade me conquistou pra sempre. Fiquei hospedada no kedarguesthouse que, apesar de muito simples, pertencia a uma familia indiana maravilhosa que me fez sentir completamente em casa! Saí então, toda colorida a  explorar os cerca de 90 ghath, escadarias que descem até ao Ganges, e que definem a vida e a identidade de Varanasi. Assisti ao nascer do sol  do barco, o que me faz pensar que o suryanamaskar (saudação ao sol) só pode ter sido criado após tamanho espetáculo. Pratiquei Yoga. E vivi 3 dias com um misto de magia e euforia únicas, que saturaram todos os meus sentidos. Varanasi representa a India como ela é e, para mim, sem dúvida, a cidade mais incrivel que já conheci na vida.
Apesar do fato de que é um dos rios mais poluídos na Ásia  (suas águas contém 120 vezes o limite amplamente reconhecido de bactérias considerado seguro para o banho), todos os Hindus querem vir a Varanasi banhar-se nas águas do Ganges, pois assim lavam todos os seus pecados, e aspiram também ser aqui cremados depois da sua morte pois daqui ascendem directamente ao Nirvana. Pessoas de toda a India, e também do estrangeiro, trazem os seus familiares mortos para aqui serem cremados. As piras funerárias são ateadas com o fogo eterno trazido do templo de Shiva que arde initerruptamente há milhares de anos. Participam da cerimônia  de cremação apenas os homens da familia que, ao contrário dos ocidentais, se vestem de branco. Já as mulheres não podem ir às cerimônias e devem permanecer em casa, uma vez que são mais emotivas e choram, e isso impede que a alma vá para o Nirvana. Os corpos são envoltos com sari vermelho (mulheres) ou roupa branca (homens) e são cremados com 200 kg de madeira, durante cerca de 3 horas. Uma parte da madeira é sândalo, cuja quantidade depende das condições financeiras da familia, por ser uma madeira cara. Quanto mais rica, mais sândalo e menos cheiro de churrasco no ar! Nem todos os corpos são cremados, os de crianças com menos de 16 anos, mulheres grávidas, homens santos (saddhus), leprosos, e pessoas que morreram de mordeduras de cobra são embrulhados ritualmente e atirados ao rio.

Não deixe de visitar Sarnath (a apenas 20 minutos de auto-riquexo) que é tão sagrada para os Budistas como Varanasi para os Hindus. Este é o sitio do 1o grande sermão de Buda depois de ter sido iluminado, e lá os templos são menos lotados, onde é possivel sentir uma sensação de paz indescritível.






A Índia é assim, quando abrimos nosso coração , visitando-a , ela se revela em toda a sua beleza!






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